domingo, 20 de dezembro de 2009

I'm back.

* Tudo parecia uma enorme pintura abstrata onde nada acontecia, além do movimento de gente passando pra olhar.

* Eu cansei de passar pra olhar e decidi ficar ali, fitando aquela gravura, pelo maior tempo possível. Suas cores eram tão vivas e constrastantes que pareciam lutar umas com as outras. As pinceladas eram tão firmes e, ao mesmo tempo, aparentemente aleatórias, que pareciam ferir a tela. Eu tecia todo tipo de comentário a respeito da obra para mim mesmo, enquanto todos os outros apenas passavam desatentos, perguntando uns aos outros onde ficavam as pinturas realistas.

* De real, basta o mundo. Eu quero é partir em busca do que é incógnito, improvável e incorreto. Eu vejo sentido no abstrato e, sim, muita vida no que muitos convencionaram chamar de 'natureza morta'.

* O que é mais abstrato do que o amor? Ele não tem forma nem cor, mas é o que me faz parar o coração. A gente busca incessantemente essa sensação de enfartar de amor, de sentí-lo pulsando e estourando nossas veias. Que outra coisa nos leva a isso? O que mais justifica todos os poemas, todas as músicas, toda a angústia e inspiração do mundo?

* Só ele, o amor. A pintura abstrata que muita gente já não aprecia mais. Em busca de retratos reais, a gente se joga nas cordas do comodismo, esquecendo o verdadeiro motivo de estarmos aqui.

* E eu sei que você também pensa assim.

domingo, 19 de julho de 2009

Sempre chega uma hora,

que não dá mais pra viver essa história mal contada, não sei como escrever. Você não dá atenção ao que eu tenho pra dizer, dias em que o coração quase para de bater. E um dia eu vou partir. E um dia tu vais ver que isso tudo foi ruim, e eu não vou estar pra ouvir desculpas, que para mim, não me impedem de fugir. Fecho as portas para ti, e tu choras sem saber que dói muito mais em mim, mais em mim do que em você. Eu não quis te magoar, não quis te fazer chorar sozinha sabendo que tinha o mundo nas mãos. Perdeu. Eu não quis te abandonar. Você ignorou o que eu sentia, e agora está dizendo que não. Tarde demais. Mas um dia, outra hora chega a hora de ir embora.
Como acaba essa história pra você?
E eu estou partindo agora.
Guardo tudo na memória.
Vou andando sem demora.
Adeus você.

sábado, 30 de maio de 2009

* Se tudo que eu falo pra ti são espinhos e o que faço pra ti são lanças, vejo em tuas feridas pontos finais. Sinais pra não falar ou fazer mais. Por isso o ponto.

* Se anulam prós e contras. O saldo é zero. O começo e o fim se aproximam, se unem e se beijam, como num filme.

sábado, 23 de maio de 2009

* Eu caminho. Ás vezes sozinho, ás vezes acompanhado. São trilhas cuidadosamente abertas nesse campo de gramados altos. Por vezes te vejo seguindo rumos distantes dos meus, mas vejo a ponta da tua cabeça, ao longe, me tranqüilizando, por estares logo ali. Observo tuas escolhas e jamais me oponho a nenhuma delas, mas comemoro quando elas levam o teu caminho de encontro ao meu, mesmo que por segundos.

* Minhas mãos ocupam meus bolsos para que tu não tenhas tentação de te deixar levar por elas. Minhas mãos vão te levar por caminhos que tu não vais gostar de percorrer. É que eu me vou por lamaçais, manguezais e, por inúmeras vezes, já me perdi em florestas das mais altas sequóias, de ramos tão frondosos a ponto de fazerem com que os raios de sol desistam de mergulhar no chão. E eu preciso de duas mãos pra escalar todas essas montanhas que se aproximam ao norte.

* Desses cumes posso te ver caminhando, por muitas vezes de mãos dadas com outros passantes, nem que seja só pra pedir informação. É tudo tão triste, quando visto daqui de cima... são tantas almas solitárias de mãos cerradas, são tantas pegadas apressadas de gente que não sabe aonde quer chegar, tanto desespero nessa procura cega pelo que não se sabe o que é, mas que tanto se quer, que eu fico pensando se vale a pena voltar.

* Talvez tu nunca venhas a entender, mas eu já estou acostumado com a minha condição de incompreendido. É que tu não sabes como é frio o lugar de onde eu venho. É que tu não sabe como dóem esses pontos ainda não-cicatrizados. É que não se passa pela tua cabeça que, toda vez em que abro meus braços, sinto esses pontos hesitando em permanecerem fechados, sinto as costuras esgaçadas, sinto o ar que faz arder minhas entranhas, sinto a dor de afogar denovo naquele mar salgado que por tanto tempo me privou de cravar os pés em terra firme. E hoje eu tenho um medo enorme do mar.

* É quase manhã, fraz frio, e não há sol que seja capaz de derreter todo esse gelo antes da noite chegar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Se estas paredes falassem.

Se estas paredes falassem, se contassem cada vez que me vi de joelhos na escuridão, com medo de levantar e fitar na penumbra meus olhos no espelho dizendo que não, não pode ser verdade... mas é tanta maldade jogar na fogueira o meu coração, por sentir não ter forças pra calar essas bocas e afastar os dedos de minha direção. Asas fracas não me deixam voar e eu não me lembro de pedir pra você ficar e arrancar carne de meu peito com tanto ódio e gritar, pra eu me excluirde teu mundo. Já não sei mais há quando tempo não vejo o sol com meus próprios olhos, já não sei mais se é por medo ou se esqueci como olhar pra fora. Portas frias me deixam sem ar, e ninguém me ouve bater pra abrir e me ajudar e eu não quero mais viver com medo ou vergonha de respirar, de existir ou beijar teus lábios.. se estas paredes falassem, se contassem cada vez que sonhei viver em outro lugar onde Marte ama Marte e Vênus pode passear de mãos dadas com Vênus sem se preocupar com o vento covarde que me deixa até tarde com medo e sem saber se você vai voltar... será que estou errado por querer estar ao teu lado, em jardins onde as flores não envenenam o ar?

(Se estas paredes falassem - Dance of Days.)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Quando, com um passo, tu ficas dois passos mais distante, é porque ela também está indo embora.

É aí que tu começas a pensar nesses laços invisíveis que nos amarram uns aos outros. Que tamanho eles podem ter? Podem continuar apertados mesmo quando suas pontas já não mais ocupam o mesmo lugar? Sentes um fisgão nos pulsos quando abraças outro alguém?

Livra-te dos laços. Não falo de cortar. Podes desamarrá-los com o mesmo carinho que tiveste quando os tornaste apertados como braçadeiras. Lembra-te de que laços não são algemas.

Agora divide essa corda e presenteia quem tu quiseres com esses pedaços. Eles são pequenos o suficiente para não virarem nós? Perfeito.

domingo, 10 de maio de 2009

Nem tudo é como a gente quer.

No entanto, isso não quer dizer que não é tudo que precisamos. Muitas vezes, essas coisas que a vida nos coloca pelo caminho são bem melhores do que a gente esperava. Veja bem, a hora mais bonita do dia é aquela em que o céu fica vermelho, e não azul. As mais belas noites são aquelas poucas em que a lua pega emprestada quase toda a luz do sol e a gente não precisa de lanterna pra caminhar. Exemplos não me faltam: a gente só ama o frio porque pode se envolver em mil casacos e cobertores, bem como agradecemos pelo escaldante sol de verão somente após mergulharmos num mar gelado.

Eu posso não ser o que tu esperavas, mas a gente não escolhe o que quer sonhar quando coloca a cabeça no travesseiro. E que atire a primeira pedra quem não gosta de sonhar aqui. Eu posso não ser o que tudo que tu precisavas, mas a gente vive e morre sem saber do que realmente precisamos. Eu posso não bastar. Então que baste o amor.

Eu posso não ser um monte de coisas, mas tenho certeza de tudo aquilo que sou: um céu vermelho, uma noite de lua cheia, um cobertor e um banho de mar, e tudo o mais que tu quiseres viver junto de mim.

Enche teus pulmões, pois tu vais precisar de todo o ar que eles puderem conter.